Comunicação, existiu ou nem por isso?
Primeiro a definição, convém definir para não inferir.
Comunicação é o ato de trocar informação através de meios sonoros, luminosos, ou outros entre dois seres em código comum ou através da demonstração de comportamento; com intenção de estabelecer relação ou de obter reação, podendo ser usados meios técnicos intermédios. Sendo também uma passagem entre locais. Acrescento eu, locais físicos e/ou não físicos. (1)
Como é constituída?
Para bem da argumentação vamos usar dois humanos, vizinhos que usam o mesmo
código linguístico. A ligação/comunicação que se estabelece entre eles é aproximadamente
constituída de 80% sinais não verbal e 20%
sinais verbais ou codificados. Porquê?… Porque o nosso hipotálamo é
muito mais rápido a processar informação, que as partes do nosso cérebro que
processam linguagem ou mesmo das partes cerebrais que descodificam sinais
visuais ou sonoros. A maioria de nós só tem a
consciência do rasto deixado pelos sinais de comunicação não verbal e não
conseguimos ter uma clara imagem desses sinais.
A comunicação parece ser inversa à lei de Vilfredo Pareto (2), lei que é possível verificar vezes sem conta tanto na natureza como nas atividades humanas. Para não entrarmos em labirintos de leis e teorias complexas, olhemos para a questão através de outra disciplina, a espacialidade.
O maior problema com a comunicação é a ilusão de que ela foi alcançada.
George Bernard Shaw
Quando entramos na catedral de Notre-Dame, em Hagia Sophia ou mesmo no estádio de futebol de Braga, porque é que o cheio, ou seja, o que percecionamos inteligivelmente, nos parece tão bonito, agradável ou telúrico? Porque o que foi pensado, trabalhado foi o vazio.
A maioria de nós apenas desenvolveu as suas capacidades para conseguir
admirar os contrafortes, a abobada aplanada ou sentir o tremor emocional
provocado pela imagem de uma estrutura que reconhecemos a partir do nosso íntimo
quando a mesma parece irromper do chão. Um exemplo mundano, por vezes, conhecemos
alguém novo e essa pessoa deixa-nos uma sensação estranha, então dizemos, não
gostei da energia daquela pessoa ou até vamos mais longe, usando a expressão
não gostei do íntimo daquela pessoa.
Porque é que isto acontece?
Segundo Jordan B. Peterson (3), o autor que nos fez repensar a
religião, o indivíduo e o porquê do nosso dever de moralidade; a comunicação é
um fenómeno transdimensional. Imaginem que nos encontramos num parque, o
choupal ou o jardim das Abadias, paramos e temos uma conversa. Para que efetivamente
aconteça comunicação entre estes dois Sapiens, quando um de nós está no papel de emissor,
ele tem de canalizar o seu ser e converter em sinais próprios de um código, que
seja comum ao recetor, a mensagem que pretende comunicar. O outro, no papel de recetor tem
de incorporar, aqui atenção porque não é no sentido espiritual, é no sentido de
criarmos uma imagem da pessoa que pretende comunicar para melhor percecionar os
seus sinais e melhor compreender as ideias presentes na sua comunicação.
Agora faz sentido definir comunicação como passagem e a
importância da comunicação não verbal ao comunicarmos. Acrescento mais
duas outras questões, que são a assertividade entre o ente do indivíduo e as
ideias da comunicação. Por último, a questão da
importância da efetividade da comunicação que nos é dada pela capacidade de
expressão de ideias, ou seja, do modo como ligamos as ideias. Mas
estes dois últimos tópicos pela sua complexidade e interconexão com outras
disciplinas ficam para um outro post.
Começamos a juntar as peças para obter respostas sobre o que de facto são
os 80% que quase nos passam ao lado e estamos a aproximar-nos de uma imagem
mais verdadeira do que é necessário para que aconteça comunicação.
Resumindo, a comunicação para ocorrer necessita que se cumpram certos princípios com variantes dentro de um determinado espectro. Mais que palavras bem escolhidas e ditas no tempo certo, talvez seja a nossa maneira de ser e estar que mais influência a nossa capacidade de fazer acontecer comunicação.
O velho ditame “interessa mais a forma de dizer do que o que dizemos” talvez tenha de facto fundamentação.
(1)
Com base na infopedia, website: https://www.infopedia.pt/dicionarios/lingua-portuguesa/comunica%C3%A7%C3%A3o
consultado a 3/05/2021
(2)
Vilfredo Pareto, sociólogo e economista italiano que
estudou os princípios da distribuição da riqueza e da produção agrícola. Estudo
mais conhecido como pela análise 80/20.
(3)
Peterson, Jordan B.; Mapas do Sentido - A arquitetura da
crença; Lua de papel, Lisboa 2019.
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