1.º de Maio de 1974, o primeiro em Liberdade
1.º de Maio de 1974, o
primeiro em Liberdade
O dia 1 de Maio de 1974, o primeiro Dia do
Trabalhador em Liberdade, foi
entusiasticamente comemorado pelo povo, de norte a sul de Portugal, sobretudo,
nas principais cidades, nomeadamente, Lisboa e Porto, onde chegaram de todo o
lado milhares de pessoas, dos mais novos aos mais velhos, que encheram ruas e
praças, para o celebrarem. Este foi o dia, em que o povo esteve tão unido como
nunca mais haveria de estar.
Tinha sido recentemente conquistada, a tão ansiada LIBERDADE, que durante quarenta e oito longos e escuros anos fora roubada ao povo. Nem uma semana tinha decorrido após o 25 de Abril, o golpe de Estado que depôs a ditadura. O 1º de Maio era a primeira grande manifestação, depois de décadas em que o direito à “reunião” esteve proibido. O povo, ainda aturdido, mas feliz, comemorava duas festas: a do 25 de Abril e a do Dia do Trabalhador.
Alcançando
os seus direitos fundamentais, os portugueses podiam, agora, expressar toda a sua
alegria, emoções de variada índole, ideologias político-sociais sem filtros e
sem censura. Multidões acotoveladas, onde não havia um mínimo espaço livre,
gritavam palavras de ordem “Agora o povo unido nunca mais será vencido, nunca mais
será vencido”; também frases reivindicativas: “Direito de voto aos 18 anos”, “Direito à greve” ou “Salário mínimo
nacional”; havia pedidos “Fim da guerra colonial”, “Julgamento público dos criminosos fascistas”;
havia saudações “Bem-vindos os exilados.” Também se ouviam proclamações "As nossas armas
são as flores", “A
poesia está na rua.” Alguma estava de certeza.
"Esta é a madrugada que eu esperava
O dia inicial inteiro e limpo
Onde emergimos da noite e do silêncio
E livres habitamos a substância do tempo."Sophia de Mello Breyner Andresen, in O Nome das Coisas
Centenas de cartazes, de todo o tipo e
feitio, eram empunhados pelos populares e arrancavam sorrisos com os seus
dizeres, bandeiras,
cravos, tudo ao som das canções de Abril - E depois do
adeus, Grândola, Vila Morena,
que foram as senhas usadas pelos militares da revolução, depois das zero horas
do dia 25. Era um êxtase inexplicável. O 1º de Maio passou a ser lugar de Abril,
expressão e símbolo de Abril.
Toda essa gente, a maior parte anónima, outra,
homens e mulheres que tinham lutado pela liberdade na clandestinidade, no
estrangeiro, nas prisões e tantos e tantos jovens mancebos nas ex-colónias,
onde muitos morreram sem terem visto o despertar de uma linda madrugada, de uma
nova era da História portuguesa, ali estavam, de cravo ao peito ou na mão, para
ouvirem os discursos de Mário Soares e Álvaro Cunhal, entretanto, regressados
do exílio. Foi a única manifestação, em que estes dois dinossauros políticos estiveram
juntos.
Também nas varandas e
janelas dos prédios, estavam suspensas bandeiras nacionais, colchas,
serpentinas, cravos, muitos cravos. Desconhecidos beijavam-se, abraçavam-se,
enquanto faziam o “V” de Vitória. Até os triângulos dos carros serviam para o
efeito, contribuindo para um colorido ainda mais forte e brilhante. Foram
momentos de indescritível liberdade.
As comemorações do 47º aniversário foram entusiasmadas, mas bem
diferentes. Apesar de todos os constrangimentos, cumprindo todas as regras do
distanciamento social e de higienização, milhares de pessoas comemoraram o Dia
do Trabalhador. Mobilizaram-se e foram para a rua, mas sem beijos nem abraços,
num distanciamento físico arrepiante nunca visto. Estas manifestações ocorreram
em vinte e oito cidades portuguesas. Alguns desfilaram, outros assistiram das
janelas, varandas e passeios. As palavras de ordem O povo
unido jamais será vencido, A
luta continua nas empresas e na rua, entre muitas mais, ecoaram. Houve agitação social e os
problemas laborais, sociais, políticos estiveram presentes. As bandeiras, os
cartazes e os cravos também lá estiveram, em pequena quantidade, no entanto, com
o mesmo propósito, mas sem risos, sem a alegria contagiante dos quarenta e
cinco anos anteriores a 2020. A pandemia provocada pelo Coronavírus SARS-
Maria Manuela Marques
Vice Presidente de Afiliação
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